Sobrevivente/Desafiador/Semítico/Tontinho/Sinais de anti-materialismo? (Survivor / Challenger / Semitic / Silly / Signs of anti-materialism?)

O Carlinhos pode ter muitas capacidades, mas de vez em quando, também tem grandes apagões. Então, estando-se a preparar para passar uma noite no aeroporto de Marselha, reunindo alguma comida em Almviks, em Skavsta, no aeroporto, apercebe-se que chegou vinte e quatro horas antes do voo. Assim, sem querer chatear ninguém,  não gastar mais uma coroa sueca e não gostando de repetir despedidas, o desafio elevou-se para passar duas noites seguidas em aeroportos (uma em cada). Carlinhos faz o reconhecimento do terreno: se há net (não), onde estão as casas de banho, onde há tomadas, arranja um carrinho para as mochilas, faz um sesta numa esplanada, a mochila da roupa desaparece, certifica-se de que está nos perdidos e achados, não a reclama (era só um fardo e assim poupa dinheiro do cacifo), tem de ver se o aeroporto fecha à noite, pois poderá ter de dormir cá fora. Ainda bem que aqui a noite é curta : )
Tira uma cartolina toda engordurada da sua mochila com o seu jantar. Poderia-se ter sentido envergonhado com tal, mas sabendo com o amor com que foi feito, saboreia a piza, confiante. Tempo, agora, não lhe falta para escrever.

O aeroporto é pequeno. A hora da deita aproxima-se. Ao pé do check-in existe uma fila de cadeiras. São grandes mas desconfortáveis. O tamanho do Carlinhos também não ajuda. Apenas existe um homem sentado nessa fila. Parece ser um profissional da coisa. Agasalhado para o frio com gola alta, boné e óculos (que pareciam ser de ciclista), aparenta ser muito metódico. Com movimentos muito suaves, entretem-se a arrumar as suas roupas. Carlinhos, observando-o por cima do livro que Lokanath lhe oferecera, chegou a pensar que este senhor estava a armar uma espécie de golpe. Por fim, apenas se tentou manter sentado, lutando contra o sono. (No dia seguinte, por volta do meio dia, este senhor continuava sentado na mesma cadeira).
Carlinhos, não encontrando conforto e sentido algum frio, mudou-se para a sala da restauração. Para seu espanto, encontra cerca de mais dez pessoas na sua situação, e aqui sim, verdadeiros profissionais. Como uma senhora de idade avançada que, descalça e com um casaco a tapar a cabeça, se encontrava deitada sobre quatro cadeiras que tinha unido. Outros tentavam dormir debruçados sobre a mesa, e outros, apenas se entretiam com alguma leitura ou com um portátil. Carlinhos, tenta primeiro a técnica menos arrojada, a do debruçar sobre a mochila em cima da mesa. Mas a mochila não está propriamente com roupa e à medida que o corpo morre acaba por aleijar um olho ou a garganta. Após ver vários colegas nocturnos deitados nas cadeiras seguidas, começou por tentar com duas. Resultou. Acordou com um braço todo dormente mas já eram três da manhã. Decidiu juntar mais uma cadeira. Mas os constantes ruídos e a sua fisionomia óssea não lhe deram êxito na procura de várias posições. Intercalava tentativas de adormecer com a leitura do livro. O frio também não ajudava. Eram quatro e pouco, e lá fora, já estava a clarear. Uma mosca pousa-lhe no braço, e ele questiona-se: Porque raio agora aparece uma mosca? Levanta-se, esfrega a cara e repara que o empregado começou a acordar as pessoas. Ah! É por isso.. As primeiras chegadas seriam em breve e o movimento total regressaria. Às quatro e meia, vendo o primeiro sol iluminar a rua, decide ir em busca do seu conforto. Caminha, por vezes pára, só para o sentir. Ainda está muito fraco mas daqui para a frente, é sempre a melhorar. Afasta-se do aeroporto e passados cem metros, passa pelo hotel. São cerca de sessenta euros a noite. Carlinhos continua e o seu instincto leva-o na direcção da relva. Ao passar por um edifício baixo com muitas janelas, repara em dois bancos planos, viradinhos para o sol. Deveria ser uma escola, e com sorte, estariam de férias. Deitou-se no mais afastado da porta com a sua almofada, a mochila. Ainda estava um pouco fresco, mas menos que no aeroporto e seria vigiado pelo sol. Acordou eram nove horas. Hum.. assim sim. Um pouco suado, tirou o casaco, arregaçou a camisa e dormiu por mais uma hora. Estava alguém na escola mas não o incomodaram. Ainda não satisfeito, queria agora um sítio com alguma sombra. Na sombra das árvores a relva ainda estava húmida, assim, o melhor que arranjou, foi no outro lado do edifício, num relvado com uns arbustros que serviram para lhe taparem a cara do sol. Ficou por ali até às onze e meia. Acordou com todo o tempo do mundo, espreguiçando-se e revirando-se, como se numa cama estivesse. Com vista para o hotel, levantou-se bem disposto. A natureza tinha-lhe correspondido com o conforto que procurára e pensava: que bela forma de honrar o que a Suécia tem de melhor, na despedida – tranquilidade e verdura.
Siga pa França!

Carlinhos may have many skills, but from time to time,he  also has major blackouts. So when he's preparing to spend a night at the airport in Marseille, bringing some food from Almviks, at Skavsta airport, he realizes that he arrived twenty-four hours before the flight. So, not wanting to bother anyone, to spend anymore Swedish krona and disliking repeated farewells, the challenge raised up itself to spend two nights in airports (one at each). Carlinhos does the reconnoiter of the airport, if there is internet (not), where are the bathrooms, where are the electrical sockets, picks a cart for the bags, it makes a nap on the terrace, the bag of clothing disappears, makes sure that it's on the lost and found, doesn't reclaim it (it was just a burden and thus saves the money for the locker), must see if the airport closes at night, because there's the possibility of sleeping outside. Thankfully, here the night is short :)

He takes a greasy cardboard of his backpack for dinner. He could have felt embarrassed about this, but knowing with the love that was done, he tastes the pizza, confident. Now, there is a lot of time for writing.

The airport is small. The time of going to bed gets close. Near the check-in there is a row of chairs. They are big but uncomfortable. The size of Carlinhos also doesn't help. There is only one man sitting in these chairs. It seems to be a professional in sleeping in airports. Bundled for the cold with high collar, hat and glasses (which seemed to be cycling glasses), appears to be very methodical. With very gentle movements, entertains himself repacking his clothes. Carlinhos, watching him over the book that Lokanath offered him, comes to think that this man was arming a kind of coup. Finally, he only tried to keep sitting, fighting against the sleep. (The next day, around noon, this gentleman was sitting in the same chair).
Carlinhos, without finding comfort and feeling some cold, moved to the room of the eat zone. To his astonishment, he finds another ten people in his situation, and here yes, there were true professionals. As an elderly lady who, barefoot and with a coat to cover his head, was lying on four chairs that she had united. Others tried to sleep leaning on the table, and others, only entertained with some reading or a laptop. Carlinhos, first tries the less bold technique, of leaning down on the backpack over the table. But the backpack has not exactly clothes, and, as the body dies, eventually hurts an eye or the throat. After seeing several night colleagues lying on chairs in a row, he started to try with two. It worked. He woke up with a numb arm but it was three in the morning. Decided to add one more chair. But the constant noise and his bony body didn't let him being succeed after several  attempts of positions. Attempts to fall asleep and reading the book were intercalated. The cold wasn't helping. It was four and something, and out there was already clear. A fly lands on his arm, and he wonders: Why the hell now appears a fly? He gets up, rubs his face and notices that the employee began to wake up people. Ah! Therefore .. The first arrivals would soon come back and all the unrest. At half past four, seeing the first sun illuminating the street, decides to go in search of his comfort. He walks, sometimes stops, just to feel it. It's still very weak but from now on, it's always improving. He goes away from the airport and, after a hundred meters, passes by the hotel. It's about sixty euros a night. Carlinhos continues and his instinct leads him towards the grass. By going through a low building with many windows, he notices two plan benches, facing the sun. It should be a school, and with luck, would be on vacation. He lays on the farthest from the door with his pillow, the backpack. It was still a little cool, but less than in the airport and he would be monitored by the sun. He woke up by nine. Hmm. Alright. A little sweaty, took off his coat, rolled up his shirt and slept for another hour. There was someone at school but didn't bother him. Still not satisfied, looked for a spot with some shade. In the shadow of the trees the grass was still humid, so the best he got was on the other side of the building, a lawn with some shrubs that served him to keep his face int he shadow. He stayed there until half past eleven. He woke up with all the time in the world, stretching and rolling, as if he was in his bed. With the hotel on his sight, got up in a good mood. Nature had given him the comfort he was searching and he was thinking, what a beautiful way to honor what best Sweden has to offer, at the farewell - peace and greenery.
Let's go to France!